A comunicação entre profissionais da saúde mental e seus pacientes vai muito além de diagnósticos e prescrições. Quando o assunto é transmitir confiança, esclarecer dúvidas e tornar o atendimento mais acessível, o uso de histórias pode ser um recurso valioso. O storytelling — ou, em português, a arte de contar histórias — tem o poder de aproximar, humanizar e tornar temas complexos mais compreensíveis. Para psiquiatras, essa ferramenta pode ser aplicada com ética e responsabilidade, sem jamais desrespeitar o sofrimento de quem busca ajuda.
Por que contar histórias funciona?
As pessoas se conectam com narrativas desde a infância. Histórias despertam emoções, geram empatia e ajudam o cérebro a assimilar informações de forma mais clara. Quando bem utilizadas, elas criam pontes entre o conhecimento técnico do profissional e as experiências vividas por pacientes e familiares.
Na psiquiatria, onde os temas abordados muitas vezes envolvem dor emocional, medo, vergonha ou culpa, contar histórias permite que o público se veja em situações semelhantes — o que pode encorajar alguém a buscar apoio, entender um sintoma ou iniciar um processo de autocompreensão.
O que pode ser contado?
Antes de mais nada, é importante deixar claro: a confidencialidade do consultório jamais deve ser quebrada. O storytelling na psiquiatria não se trata de expor pacientes, mas sim de criar narrativas simbólicas baseadas em situações reais, sem nomes, sem detalhes que identifiquem pessoas, e sempre com o foco em informar e acolher.
Histórias que mostram, por exemplo, como uma pessoa lidou com a ansiedade, como foi o início de um tratamento psicológico ou como alguém superou o medo de procurar um psiquiatra podem ter grande impacto. Elas transmitem a ideia de que é possível melhorar, que o sofrimento tem nome — e, muitas vezes, caminho.
Linguagem acessível e tom respeitoso
O objetivo das histórias não é impressionar, e sim criar conexão. Por isso, a linguagem deve ser simples, empática e livre de termos técnicos desnecessários. Evite qualquer tipo de exagero ou romantização do sofrimento. O foco está sempre na escuta, na informação de qualidade e na esperança baseada na prática clínica.
Usar o storytelling também pode ajudar a explicar procedimentos, desmistificar o uso de medicamentos ou mostrar o que acontece numa primeira consulta. Isso contribui para reduzir o medo e a resistência que muitas pessoas ainda sentem ao procurar ajuda psiquiátrica.
Onde e como aplicar o storytelling?
Histórias podem ser usadas em textos de blog, vídeos, postagens em redes sociais, ou mesmo em apresentações públicas voltadas à saúde mental. O importante é que o conteúdo respeite os limites éticos da profissão e tenha como finalidade informar, acolher e orientar.
Humanizar é também cuidar
Ao utilizar histórias para explicar o que é um transtorno, como funciona um tratamento psicológico ou de que forma alguém pode dar o primeiro passo em busca de ajuda, o psiquiatra amplia sua atuação para além do consultório. Ele passa a ser uma voz que acolhe mesmo antes do agendamento — e isso, por si só, já é um gesto terapêutico.